Que empolgação !!!

   No terceiro dia de viagem eu acordei com bastante disposição, tínhamos programado na noite anterior ir até Conceição do Mato Dentro, o nível de dificuldade e a alta quilometragem não abria espaço para muitas paradas, a preocupação do Guilherme era que nas cidades anteriores não tinham nenhum relato de estrutura turística e a famosa cachoeira do Tabuleiro seria mais facilmente acessada estando por lá, a idéia era tirar um dia de folga e pegar um táxi para visitá-la. 

  Porém, ao sair, eu acabei me adiantando, eles queriam comprar Gatorade na padaria, eu como não faço questão alguma, falei que iria seguindo devagar, que logo eles me alcançariam, mas no desenrolar do dia não foi o que aconteceu.

  Eu realmente toquei devagar na primeira etapa do dia, era um trecho só de subidas até Itapanhoaconga, quando cheguei neste local comecei a refletir sobre os contrastes de nosso país, somos a sétima economia mundial, mas quando cheguei numa venda, para tomar algo, fui recepcionado por um grupo de crianças na faixa etária de minhas filhas, muitos deles com os dentes pretos, alguns sem dente, outros bem barrigudos e raquíticos, comprei biscoitos, pão de queijo e refrigerante, fizemos um piquenique na porta da venda, todos faziam muitas perguntas e brincadeiras, foi um bom momento com aquelas crianças, senti falta das minhas meninas, mas ao longo da caminho fiquei muito triste e pensativo.

   Tentei me comunicar com meus amigos, o celular por aquelas bandas nem sempre tem serventias, além das horas e da lanterna, pois o sinal de telefonia é bem precário, cheguei muito antes do previsto, antes do meio dia parei numa borracharia, no percurso 3 furos e remendos na beira da estrada não me deixaram muito confiante para seguir viagem, aproveitei e pedi para retirar os remendos velhos e fazer tudo novo colando a quente, não quiseram cobrar nada pelo serviço, e ainda me prestaram muitas informações.

  Parei para almoçar, uma bela lasanha e muito líquido para repor as energias, chocolate de sobremesa e um pouco de descanso vendo o movimento à beira do terraço do restaurante, fiz nova tentativa de contato com meus amigos, inclusive por orelhão, mas nada, achei por bem continuar, era ainda 13 horas, estava bem, queria pedalar mais.

   A próxima cidade seria Morro do Pilar, foi lá que acabei me hospedando neste dia, estava preocupado, pois meu dinheiro estava acabando, quase nenhum lugar por aquelas bandas aceita cartões, a falta de rede bancária e o preço em alta das coisas no Brasil acabou extrapolando o orçamento previsto. Meu celular fazia questão de não funcionar, o único orelhão da cidade estava quebrado, não consegui saber notícias de casa nem de meus companheiros. 

   Neste dia acabei pedalando bem mais que o previsto, estava ótimo, engraçado como cada dia o nosso organismo reage diferentemente. Nesta faze da viagem passei por uma estrada muito movimentada, além da preocupação em chegar, não vi pontos de interesse para fotos, porém de Morro do Pilar a Itambé do Mato Dentro a natureza deu seu espetáculo, as fotos falam por si só.

   Em Itambé do Mato Dentro conssegui resolver minhas preocupações, primeiramente fiz contato telefônico, todos em casa estavam bem, mas meus colegas estavam chateados comigo, afinal de contas eu havia sumido, mas logo entenderam o que ocorreu, eu falei para eles curtirem a cachoeira do Tabuleiro que eu esperaria, mas o Luciano acabou tendo que voltar para Santos, o Guilherme precisava trocar as pastilhas de freio para poder seguir viagem, fez uma encomenda que veio de Belo Horizonte, com isso só poderia sair no outro dia, foi o que fez, me encontrou no outro dia a tarde em Itambé. Por outro lado eu aproveitei o dia para despachar roupas sujas para minha casa, tirar dinheiro, passear pela cidade e descansar um pouco.